Nos anos 80 e 90, a vida parecia seguir um ritmo diferente, onde a simplicidade e a proximidade eram valores centrais. Costumes que hoje parecem quase exóticos faziam parte do dia-a-dia, refletindo uma forma de viver que se perdeu com o tempo e a modernidade. Recordar estas práticas não é apenas uma viagem nostálgica, mas também um convite à reflexão sobre o impacto das mudanças nos nossos hábitos e na forma como nos relacionamos com o mundo.
Antigamente, quando íamos ao mercado, não havia sacolas plásticas a rebentar pelos corredores. Cada família tinha a sua própria bolsa de tecido, reutilizada até se desfazer. O pão vinha embrulhado em sacos de papel e a mortadela era cuidadosamente fatiada e envolvida em papel vegetal, sem necessidade de excessos de plástico. Mais do que hábitos sustentáveis, eram formas de vida que hoje chamamos ecológicas, mas que então eram simplesmente práticas comuns.
Para as bebidas, levávamos garrafas de vidro que eram enchidas e devolvidas vezes sem conta. Os ovos vinham numa cesta de arame, cuidadosamente transportados. A nata e a gordura, compradas a granel, eram colocadas em recipientes trazidos de casa, e o leiteiro passava pelas ruas para encher os jarros de quem o esperava à porta. Estas rotinas criavam um sentido de comunidade e responsabilidade que está, de certa forma, ausente na atualidade.
Os avós também tinham os seus costumes encantadores. Era comum as avós prepararem refeições para os avôs que trabalhavam no campo, enviando-as em marmitas ou porta-viandas. E, no trabalho, o café era levado em garrafas térmicas que acompanhavam os longos dias de labuta. Hoje, tudo isso foi substituído por práticas descartáveis, mas será que ganhámos algo em troca?
As crianças não tinham gadgets ou brinquedos elaborados. Criavam carrinhos com latas de leite em pó ou brincavam com o que encontravam ao ar livre. Estas brincadeiras estimulavam a criatividade, a cooperação e a capacidade de resolver problemas. Era um mundo onde as fraldas eram de pano, lavadas e reutilizadas com cuidado, e onde tudo tinha um propósito e uma segunda vida.
Relembrar estes tempos não é sobre querer voltar atrás, mas sobre reconhecer o valor do respeito, do carinho e da simplicidade. Talvez seja o momento de recuperar alguns destes hábitos, não como saudosismo, mas como uma oportunidade de reconexão com práticas mais humanas e sustentáveis. Afinal, aquilo que parecia simples tinha um impacto profundo nas nossas vidas e no nosso planeta.
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