Um partido que defende trabalhadores… mas não os seus próprios

O Bloco de Esquerda enfrentou despedimentos que traem os seus valores de justiça social. Erros reconhecidos por Mariana Mortágua não apagam a desilusão. Leia uma análise crítica e reflexiva.

A recente carta de Mariana Mortágua aos militantes do Bloco de Esquerda, reconhecendo erros no processo de despedimentos no partido, é um episódio que merece uma reflexão profunda e crítica. Não há outra forma de abordar este tema senão com firmeza: o que aconteceu é vergonhoso e vai contra os valores que o próprio partido tanto defende. Num partido que se apresenta como defensor dos trabalhadores, dos direitos laborais e da justiça social, esta situação não é apenas uma contradição, mas uma traição aos seus princípios fundadores.

O Partido despediu cinco trabalhadoras que ainda amamentavam, apesar de defender legislação laboral para grávidas, puérperas e lactantes. Entretanto, várias visadas vieram a público confirmar despedimentos.

Desde o início, o Bloco de Esquerda sempre se posicionou como a voz da ética no trabalho e da proteção dos mais vulneráveis. No entanto, a forma como este processo foi conduzido revela uma desconexão com os valores que propagam. Não é aceitável que, num partido que tanto denuncia as práticas laborais de empresas e entidades públicas, se repitam os mesmos erros que criticam. Os despedimentos em questão não foram apenas “penosos”, como Mariana Mortágua descreve; foram desumanos e traíram a confiança de todos aqueles que acreditaram no partido como uma força de mudança.

Pior ainda, a admissão de erros não repara o dano. Reconhecer falhas é importante, mas não pode ser usado como um escudo para evitar a responsabilização. Quem foi prejudicado por estas decisões continua a enfrentar as consequências. E o que resta aos militantes e apoiantes é um sentimento de desilusão que dificilmente será apagado com palavras. Onde estava o Bloco de Esquerda que tanto luta contra o despedimento sem justa causa e pela dignidade no trabalho?

Este episódio levanta uma questão mais ampla sobre a coerência política. Como é que um partido pode exigir mudanças no sistema se não é capaz de implementar internamente os valores que defende? A desculpa de que “cometeram erros” é insuficiente. É essencial que o Bloco de Esquerda não só admita as suas falhas, mas que também tome medidas concretas para garantir que situações como estas não voltem a acontecer.

Por fim, é importante destacar que a política é feita de exemplos. O Bloco de Esquerda perdeu uma oportunidade de ser exemplo de integridade e prática ética. Em vez disso, tornou-se um caso de estudo sobre como não agir. Cabe agora aos militantes exigirem responsabilidade e mudanças reais, porque sem estas, o partido continuará a perder credibilidade e, pior, a sua própria identidade.