Quando filmar a dor do outro é mais fácil do que ajudar

Estudante com autismo sofre agressão violenta numa escola da Moita enquanto colegas filmam. Um caso que reflete a desumanização e apatia da sociedade atual.
Quando filmar a dor do outro é mais fácil do que ajudar
Estudante a ver o telemóvel © Monkey Business Images | Dreamstime.com

As imagens que surgiram recentemente da escola na Moita, onde um estudante diagnosticado com autismo foi brutalmente agredido por um colega enquanto outros se limitavam a filmar, são um reflexo preocupante da sociedade em que vivemos. O mais chocante nesta situação não é apenas o ato de violência em si, mas a apatia dos presentes. Ninguém interveio. Ninguém tentou ajudar. Em vez disso, escolheram registar o momento, como se a dor de outro fosse mero entretenimento.

Este episódio levanta questões fundamentais sobre os valores que estamos a transmitir às gerações mais novas. Será que nos tornámos tão desumanizados que a empatia foi substituída pelo voyeurismo digital? As redes sociais, que deveriam unir-nos e amplificar boas ações, transformaram-se numa plataforma onde a crueldade é promovida e partilhada. A necessidade de obter “gostos” e “visualizações” parece, agora, superar o instinto natural de ajudar quem está em sofrimento.

O papel da comunidade escolar também não pode ser ignorado. As escolas devem ser locais seguros, onde cada estudante, independentemente das suas diferenças, se sente protegido. Este caso reflete uma falha grave na supervisão e no apoio aos alunos mais vulneráveis. Onde estavam os adultos responsáveis? Onde estavam os protocolos que deveriam prevenir situações como esta?

O silêncio e a passividade dos jovens que assistiram à agressão remetem-nos para uma questão mais profunda: a ausência de empatia e de coragem para agir. Precisamos de ensinar aos jovens que ser espectador de uma injustiça é, de certa forma, ser cúmplice dela. A coragem de intervir, mesmo que com risco, é um valor que deve ser cultivado em casa, na escola e na sociedade em geral.

Infelizmente, este não é um caso isolado. Vivemos numa época onde a filmagem de situações chocantes se tornou comum, muitas vezes sem qualquer consideração pelas consequências. A privacidade e a dignidade do próximo estão a ser sacrificadas por segundos de atenção online. Este comportamento é vergonhoso e precisa de ser combatido com urgência.

Urge refletirmos, enquanto sociedade, sobre os valores que estamos a promover. A empatia, o respeito pelo próximo e a coragem de agir são pilares essenciais que não podem ser abandonados. É tempo de responsabilizar quem falha, de educar quem se desvia e de garantir que ninguém, sobretudo os mais vulneráveis, seja deixado sozinho perante a violência.