A arte do mistério: Quando a nacionalidade não entra na notícia

A omissão da nacionalidade dos autores do crime no Martim Moniz pela imprensa portuguesa levanta questões sobre transparência e credibilidade jornalística. Descubra mais sobre este debate no artigo.

Recentemente, o caso da estudante italiana que foi vítima de um ato de violência no Martim Moniz trouxe à tona uma peculiaridade intrigante da imprensa portuguesa: o desaparecimento estratégico de certos detalhes cruciais. Enquanto os noticiários relatavam o ocorrido com uma precisão quase cirúrgica, houve um elemento que permaneceu envolto em mistério: a nacionalidade dos três autores do crime.

Num país que gosta de dissecar até a marca do café bebido por uma figura pública, esta omissão não deixa de ser curiosa. Afinal, informar não é apenas relatar factos? Parece que, neste caso, preferiu-se o “menos é mais” — mas não para proteger a vítima, e sim para deixar o público num jogo interminável de especulação. Será que agora a identidade de quem comete crimes é um pormenor dispensável, tipo a data de validade numa lata de atum?

Este comportamento levanta questões pertinentes. Por quê a escolha deliberada de omitir algo que é relevante para compreender o contexto? Trata-se de uma tentativa de não estigmatizar comunidades ou simplesmente um tiro no pé da credibilidade jornalística? Seja qual for o motivo, o resultado é claro: os leitores sentem-se subestimados e desinformados. E o vazio deixado pela falta de informação acaba por ser preenchido pela desconfiança.

Entretanto, o silêncio sobre a nacionalidade dos envolvidos não diminui a gravidade do crime nem devolve à vítima a paz que lhe foi roubada. Pelo contrário, apenas alimenta o ceticismo e perpetua um ciclo de desconfiança naqueles que deveriam ser os guardiões da verdade.

Talvez esteja na hora de refletirmos se esta é a imprensa que queremos. Uma imprensa que, no esforço de proteger algo, acaba por comprometer tudo. Porque, sejamos honestos, numa democracia, a verdade não deveria ser uma escolha editorial — deveria ser um compromisso inegociável.