Eu sou daquela geração que apanhava a comida do chão, assoprava e dizia: “O que não mata, engorda“. Ah, os tempos de infância, quando a vida era mais simples e despreocupada.
Ainda me lembro dos dias em que um doce caído era rapidamente resgatado, assoprado e consumido sem pestanejar. Éramos crianças destemidas, que não se deixavam intimidar por um pouco de sujidade. Afinal, éramos da geração que acreditava que o que não mata, engorda.
Os nossos joelhos estavam sempre esfolados das quedas da bicicleta ou dos jogos de futebol na rua. As mãos estavam sempre sujas de lama ou tinta, e as roupas tinham sempre uma mancha de relva ou chocolate. Éramos selvagens, livres e felizes.
Essa foi a geração que cresceu sem a presença constante da tecnologia. Onde os jogos de vídeo eram um luxo e não uma necessidade, e as redes sociais não existiam para nos roubar a atenção. A nossa socialização acontecia cara a cara, na rua, no parque, na escola.
Éramos da geração que valorizava as coisas simples da vida. A geração que sabia o valor de uma amizade verdadeira, de um abraço apertado, de uma tarde passada a brincar na rua. A geração que não tinha medo de sujar as mãos, de cair e se levantar, de apanhar a comida do chão e dizer “o que não mata, engorda”.
Hoje, olho para trás e sinto uma nostalgia agridoce. Sinto falta desses tempos mais simples, mas também sinto gratidão. Gratidão por ter vivido numa época em que a infância era apenas isso, infância. Uma época em que as preocupações eram poucas e a alegria era muita.
Eu sou daquela geração que apanhava a comida do chão, assoprava e dizia: “O que não mata, engorda”. E não trocava essas memórias por nada neste mundo.
Com o passar dos anos, aprendi que essa frase não se aplica apenas à comida caída no chão. É uma metáfora para a vida. As quedas, as falhas, os desafios, são como aquela comida caída. Podem parecer desagradáveis, podem até nos assustar, mas se soubermos lidar com eles, se tivermos a coragem de os enfrentar, de os “assoprar” e seguir em frente, eles não nos matam. Pelo contrário, tornam-nos mais fortes, mais resilientes, mais “gordos”.
Por isso, acredito que todos nós temos um pouco dessa geração dentro de nós. Uma geração que não tem medo de cair, de se sujar, de enfrentar desafios. Uma geração que acredita que o que não mata, engorda. E tu, és da mesma geração que eu?