Dizem que as palavras têm poder, mas nunca ninguém explicou bem como é que isso funciona. Será um feitiço? Uma espécie de código secreto? O José – chamemos-lhe assim – parecia ter descoberto a fórmula. Não era um orador pomposo, não usava palavras complicadas nem discursos longos. Na verdade, quanto menos falava, mais impacto tinha.
Lembro-me da primeira vez que o ouvi. Estava num café, daqueles antigos, onde a madeira tem memórias e o cheiro do café se entranha nas paredes. O empregado trocava os pedidos, a máquina engasgava-se e um senhor de bigode discutia acesamente com a senhora da mesa ao lado sobre a melhor forma de cozer bacalhau. O caos absoluto, até que o José, com a sua voz serena, disse apenas:
— Talvez seja mais simples do que isso.
E foi como se o tempo parasse. O empregado acertou os pedidos, a máquina de café recomeçou a trabalhar como um relógio suíço e os dois vizinhos de mesa olharam um para o outro com ar de quem acabava de resolver um mistério profundo da humanidade.
Era esse o talento do José. Ele pegava no que parecia um problema complicado e desmontava-o, peça por peça, até restar apenas o essencial. Não era magia, era clareza.
Um dia, alguém lhe perguntou como se devia responder a um insulto. Ele sorriu e disse:
— Com silêncio. Nada desarma mais um ataque do que o eco vazio que ele encontra.
E de facto, experimentem. O próximo condutor que vos buzinar furiosamente no trânsito, em vez de retribuírem com uma indignação igualmente sonora, fiquem quietos. Observem. Em menos de três segundos, ele próprio se sentirá ridículo.
José nunca escreveu livros nem foi convidado para dar palestras motivacionais. Se lhe perguntassem como mudar o mundo, ele provavelmente responderia:
— Começa com um gesto pequeno.
E talvez seja esse o segredo que andamos todos a ignorar. Enquanto procuramos grandes discursos, teorias complexas e soluções mirabolantes, esquecemo-nos do mais simples. Como um “obrigado” no momento certo. Como um “precisas de ajuda?” dito a alguém que nunca o pediu, mas precisava. Como o silêncio que diz tudo quando as palavras se tornam inúteis.
José não mudou o mundo de uma só vez. Mudava-o um pouco de cada vez, com palavras simples, mas certeiras. E, de alguma forma, isso foi suficiente.
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