A última carta que escrevi ao meu irmão emigrado

Uma carta que começou como um desabafo transformou-se numa viagem pelas memórias e pelas saudades de um irmão distante. Descobre como as palavras podem aproximar quem está longe.

Há gestos simples que têm um impacto enorme, e escrever cartas é um deles. Lembro-me bem da última que escrevi ao meu irmão, que há anos vive no estrangeiro. Não foi uma carta planeada, mas, sim, uma necessidade que surgiu num daqueles dias em que as saudades apertam mais do que o habitual.

Peguei no papel e na caneta, e as palavras começaram a fluir quase sem esforço. “Mano, espero que esta te encontre bem”, escrevi, seguindo o ritual clássico. Logo a seguir, confessei: “Aqui as coisas vão como sempre, mas faltas tu para completares os nossos dias.” Admito que senti um nó na garganta enquanto escrevia, mas continuei.

A cada frase, imagens das nossas aventuras de infância vinham à memória. Falei do quintal onde jogávamos à bola, da velha bicicleta que partilhávamos e até das brigas que tínhamos por coisas tão insignificantes como quem ficava com o último pedaço de bolo. Escrevi sobre os nossos pais, que ainda hoje teimam em colocar mais comida na mesa do que conseguimos comer, na esperança de que um dia voltes e o lugar ao canto esteja preenchido novamente.

Não pude evitar perguntar como era a tua vida por lá. “Será que tens tempo para te sentares num café e observares as pessoas como fazias aqui?” Imaginei-te a andar pelas ruas de uma cidade grande, mas sempre com aquele jeito simples e descontraído que te caracteriza.

Antes de terminar, lembrei-me de incluir uma piada. Sempre foste tu quem puxava pelas gargalhadas cá em casa, e senti que devias receber um pouco disso de volta. “Por cá, o vizinho continua a reclamar do nosso cão, mas ele já aprendeu a ladrar só quando o tipo está a dormir.” Imaginei o teu sorriso do outro lado do papel.

Enviei a carta no dia seguinte, sentindo um alívio misturado com expectativa. Não era apenas um conjunto de palavras; era um pedaço de casa enviado para ti.

E tu, já escreveste algo assim? Partilha connosco as tuas histórias de cartas e saudades. Quem sabe, talvez inspirem outras pessoas a recuperar o hábito de enviar palavras sentidas.