Dia 1 de abril de 2020, bem que poderia ser uma mentira tudo isto isto que está a acontecer.
Estamos numa altura em que estar em casa o dia todo é ser inútil e ao mesmo tempo ser a melhor opção. Uma altura em que partilhamos a angústia e o sofrimento daquelas famílias que vêm os seus familiares partirem. É também nesta altura que começamos a pensar como será a nossa vida depois de tudo isto.
Não falarei na crise financeira que virá, dos planos de recuperação da economia, das medidas de austeridade e das saudades que não temos em voltar ao que aconteceu em 2008. Falarei de uma outra crise, aquela que nos move, a crise social.
Um dos desafios do vírus tem sido até ao momento, pôr à prova a União Europeia. Como já foi dito em alguns escritos, “A Europa a duas velocidades”. A velocidade mais a norte dos que andam em modo contra relógio e a velocidade mais a Sul, daqueles que têm como objetivo unicamente terminar mais uma etapa. Perguntamo-nos então para que serve ter uma Europa a duas velocidades? O surgimento da UE, veio numa altura fulcral, pós segunda guerra e numa altura em que havia uma necessidade enorme de reconstrução no seio da Europa. Atualmente, o acordo a que continuamos a chamar UE, faz-me lembrar aquela garrafa de vinho muito antiga que temos lá em casa, que se vai arrastando na prateleira anos após anos, e que mesmo assim nos esquecemos de a abrir naquela ocasião tão especial para que ela está destinada. Assim transparece esta união, um acordo que vai perdurando no tempo e que quando existe de facto uma razão para prevalecer a solidariedade e cooperação entre nações, de nada tem servido essa União.
No entanto, acho que não serei o único a pensar que teremos um mundo antes e depois deste virus. Ou porventura serei, e daqui a um ano voltaremos ao normal e lembrar-nos-emos da revolução que houve em que os pés e os cotovelos serviam de cumprimento. Os que nunca voltarão ao normal, serão aqueles que por irresponsabilidades de terceiros, não tiveram tempo de se “adaptar” à dita revolução.
Estamos a encontrar forma de nos adaptarmos ao que nos é exigido. De ter o objetivo cumprido de igual forma, sem sentir a necessidade da presença física que antes era tida como obrigatória. A desintermediação, será uma palavra que iremos ouvir bem mais daqui para a frente.
E as relações interpessoais, como serão daqui para a frente? Falo daquele abraço efusivo que dávamos a um amigo quando a nossa equipa fazia golo, aquele abraço de loucura que era dado a meio de um concerto da nossa banda favorita ou até mesmo aquele abraço de despedida ao nosso tio no aeroporto.
Pergunto-te a ti que estás a ler isto, como vai ser daqui para a frente?
O que estamos a experenciar são páginas infinitas de dias vividos que ficarão para sempre escritas e lembradas naqueles livros de História. Servirá de matéria de estudo para adolescentes do ensino secundário decorarem as causas e as consequências desta “guerra”, despejarem no teste relatos do que efetivamente foi escrito e faltar despejar relatos de quem efetivamente os viveu.
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